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Cozinha hi-tech: como a tecnologia pode deixar sua comida mais saudável

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Estamos interessados como nunca em comer melhor. Em 2018, pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo com 3 mil brasileiros de todo o país registrou que nada menos do que 80% das pessoas buscam uma alimentação equilibrada. Sinais disso estão por todos os cantos: na TV, com os reality shows culinários; na internet, onde há inúmeros blogs de receitas; no mercado, cujas prateleiras têm incontáveis opções com pegada saudável; e na feira, que vem aumentando a oferta de produtos orgânicos.

Claro que a cozinha, local em que esses universos se esbarram, não podia ficar pra trás. É aí que aparecem os eletroportáteis modernosos e com mil utilidades. Tudo para garantir uma comida caseira vapt-vupt — principal exigência dos tempos atuais — e, por que não, mais nutritiva.

Outro fator impulsionou a demanda por esses aparelhos: o início da crise econômica no Brasil. “Essa situação fez com que as pessoas deixassem de comer fora com tanta regularidade”, observa a gerente de marketing da Philips Walita, Thaiane Cortez. A marca trouxe para cá a fritadeira elétrica que dispensa óleo, um dos maiores sucessos da categoria (ao longo da reportagem, destrinchamos as funções desse e de outros equipamentos).

O que a saúde ganha com uma cozinha tecnológica

Quem compra os dispositivos vê a diferença na prática. “Nossa alimentação ficou melhor, menos cansativa e com mais variedade”, conta a jornalista Tatiana Oliveira, de 34 anos, que cozinha com o companheiro, Victor Amatucci, também jornalista, de 33 anos. O casal coleciona um arsenal de respeito: fritadeira, mixer, panela elétrica, máquina de fazer pão, pipoqueira…

Para os especialistas, os aparatos são mesmo bem-vindos. “Hoje é muito simples comprar um produto alimentício ou prato pronto. Mas preparar a refeição é parte fundamental de uma alimentação balanceada”, avalia a nutricionista Andrea Esquivel, consultora da Gastronomia Nutritiva, em São Paulo. “Encontrar facilidade nesse processo dá espaço para a criatividade, estimula os sentidos e cria uma relação lúdica com a culinária, que passa a ser uma atividade prazerosa”, comenta.

Ao desenvolver intimidade com a cozinha, é provável que o interesse por ingredientes novos aumente, assim como a consciência sobre o que é legal priorizar no cardápio. “Qualquer coisa que ajude nessa empreitada já é válida, independentemente de deixar ou não a comida mais nutritiva”, completa Andrea.

Até porque, para o menu ser realmente saudável, não é só a engenhoca que conta. “Eu não consumia frituras, mas quando comprei a fritadeira elétrica passei a comer mais batata de saquinho, frango empanado e outros salgados”, assume a designer Georgia de Paula, de 30 anos.

Cabe ressaltar que a tal batata é pré-frita — ou seja, cheia de gordura. “Com certeza um equipamento desses, que não demanda óleo, oferece ganho. Só que devemos priorizar o uso de alimentos naturais e menos industrializados”, defende a nutricionista Edvânia Soares, da Estima Nutrição, na capital paulista.

Hoje, Georgia não larga do mixer, que tritura, pica e mistura alimentos em tempo recorde. Algumas versões dele saem por menos de 100 reais — uma ótima pedida para quem quer se dedicar mais ao seu lado mestre-cuca.

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Embora a conscientização sobre a alimentação esteja em alta, não dá para negar que a teoria é diferente da prática. No último Vigitel, pesquisa realizada periodicamente pelo Ministério da Saúde, o consumo de itens naturais deixou a desejar. Menos de 25% dos entrevistados afirmou comer cinco porções de frutas, verduras e legumes por dia — a recomendação da Organização Mundial da Saúde para prevenir doenças.

Vira e mexe, a falta de tempo para se dedicar ao preparo, ou de dinheiro para comprar os ingredientes frescos, aparece como justificativa para o baixo interesse no combo. Os utensílios tecnológicos não são lá muito baratos, é verdade, mas, considerando o quesito praticidade, eles certamente trazem um ganho.

Abaixo, você conhece as principais funcionalidade dos equipamentos tecnológicos e descobre se eles têm espaço em sua cozinha e rotina:

Juicer

O nome vem da palavra em inglês para suco (juice). Esse espremedor transforma frutas e verduras inteiras em bebidas e é fácil de manusear: basta jogar o alimento lá dentro e aguardar.

“O interessante é que não precisa de água. Então, o suco é 100% fruta”, explica Thaiane Cortez, da Philips, que possui em seu portfólio um aparelho que faz até 2 litros de bebida sem precisar limpar o coletor.

Do ponto de vista nutricional, o aporte de substâncias benéficas (a exemplo de vitaminas, minerais e fibras) é maior, pois os alimentos são utilizados com mais eficiência. Embora alguns aparelhos potentes aguentem triturar até cascas resistentes, como a do abacaxi, essa parte e o bagaço, onde ficam as fibras do tipo insolúveis, não são aproveitadas pelos dispositivos, que têm um local para escoar os resíduos sólidos.

Para uma bebida rica e fresquinha

Em contato com o ar por muito tempo, os sucos perdem parte de suas vitaminas. Além disso, podem ter o sabor alterado. O ideal é preparar a quantidade certa para tomar na hora mesmo. E, já que o juicer é tão prático, vale testar combinações de frutas com legumes e verduras, como cenoura, pepino, beterraba, couve, e por aí vai.

Dica: sabe o bagaço e a casca que sobram do suco? Não jogue fora. Asse-os no forno e você tem snacks mais saudáveis.

Máquina de pão

Parece mágica. Afinal, dá para deixar todos os ingredientes dentro dela de noite e programar para assar a massa só de manhã. Quem não quer acordar sentindo o cheirinho de padaria?

“Os pães industrializados têm uma série de ingredientes escondidos, como açúcar e aditivos químicos. Com o caseiro, dá para controlar melhor a receita”, diz a nutricionista Edvânia Soares, da Estima Nutrição, em São Paulo.

Só atenção com as pegadinhas, como abusar de gordura e farinha refinada para chegar a pães que desmancham na boca de tão macios. Esses tipos devem ser consumidos com moderação.

Dica: ao fazer pão, recorra a farinhas integrais, raízes, sementes, além de oleaginosas como nozes e castanhas.

Máquina de sorvete

Ainda há poucas opções que permitem uso somente de frutas congeladas. A mais conhecida é da marca americana Yonanas, mas há uma versão brasileira, da Britânia, com preço na casa dos 300 reais. O principal ponto forte é a possibilidade de transformar as frutas em sorbet — um tipo de sorvete leve, que não exige açúcar nem gordura.

Para Andrea Esquivel, da Gastronomia Nutritiva, na capital paulista, o aparelho é bacana para aumentar a oferta e a variedade de vegetais na rotina, especialmente entre as crianças. “O único problema é que essas máquinas não são muito potentes”, pondera a nutricionista. Tem que manejar com delicadeza.

Dica: inclua as crianças no preparo do sorvete e incentive o uso de frutas que ainda não fazem sucesso em casa.

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Panela a vapor digital

Apostar no vapor é uma das maneiras mais eficazes de preservar os nutrientes da comida, pois evita que ela entre em contato com a água (o que sacrifica boa parte das vitaminas), além de submetê-la a temperaturas mais amenas.

As panelas digitais facilitam o emprego da técnica, pois possuem timer, desligam sozinhas e mantêm o alimento quentinho. A Hamilton Beach tem um modelo que permite preparar ingredientes diferentes em dois andares separados, e algumas panelas elétricas também agregam a função vapor.

Mas, se você não tem o hábito de comer legumes e verduras, pode estranhar o sabor e a textura dos vegetais.

Dica: deixe os vegetais por minutos no vapor para preservar sua crocância. E capriche nos temperos naturais.

Frigideiras e companhia

Chegaram ao mercado panelas que não ultrapassam os 82 °C, alegando que essa é a temperatura mínima para o alimento cozinhar até o centro sem perder nutrientes. Só que, dizem especialistas, faltam evidências científicas a respeito.

Fora que alguns nutrientes ficam mais disponíveis quando aquecidos. Para completar, o cozimento em baixa temperatura implica maior gasto de energia.

Um setor que tem evoluído é o de panelas antiaderentes, que quase sempre contêm PFOA, composto químico já ligado ao risco de câncer em animais. A Flavorstone, da Polishop, e as da Royal Prestige, Le Creuset e Tramontina são algumas das que não usam mais esse plástico.

O tal do alumínio

Sua panela não precisa custar os olhos da cara, mas cabe fugir dos modelos de alumínio. O material, que compõe boa parte dos utensílios mais acessíveis, pode trazer danos à saúde em longo prazo, como favorecer o aparecimento de anemia. Há suspeita até de uma relação com Alzheimer — embora isso deva ser confirmado em mais estudos.

Dica: não use itens abrasivos para deixar a panela brilhando por dentro. Isso pode liberar substâncias tóxicas.

Panela de pressão inteligente

A boa e velha panela de pressão nasceu para reduzir o tempo de cozimento e economizar o gás do fogão. Mas bota medo em muita gente! Afinal, precisa ser vigiada constantemente para que a água não acabe, o que aumenta o risco de ela explodir.

Com sua versão digital, porém, não tem erro. Elétrica, ela usa calor por indução para aquecer o alimento e desliga sozinha quando o cozimento termina, mantendo a comida quente por algumas horas.

Perceba: enquanto a panela trabalha, você consegue resolver outras tarefas da casa, sem preocupação. Fora que não é preciso “tirar a pressão” do aparelho: ao apertar um botão, o vapor é liberado.

Os modelos costumam ter programas pré-configurados para ir além do feijão. Dá para fazer carne, arroz, legumes…

Dica: prepare proteínas mais magras (como frango desfiado), congele e ponha em lanches, no lugar de embutidos.

Fritadeira elétrica

É a famosa air fryer, que chegou ao país há oito anos e virou sucesso absoluto de vendas. Como o nome sugere, seu grande trunfo é fritar com ar — imagine um secador de cabelo superpotente e quente funcionando dentro daquele compartimento.

Bem utilizada, ela ajuda a deixar a comida gostosa sem a necessidade de óleo, como no preparo de batatas caseiras, chips de legumes e até algumas carnes. Por outro lado, pode instigar o desejo e maior consumo de quitutes que antes exigiam a fritura por imersão e faziam uma baita sujeira, como batata frita pré-pronta, coxinhas e afins. Mas deixe-os para ocasiões especiais, combinado?

E controle a temperatura interna para que não ultrapasse os 180 °C — quando a gordura presente nos alimentos satura e se torna prejudicial à saúde.

Dica: para as batatas ganharem crocância, cozinhe-as levemente antes de colocar na fritadeira.

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Cortador elétrico

A brasileira Mondial possui um aparelho desse, exclusivo para atender à moda de fatiar legumes como abobrinha e palmito para deixá-los similares a uma bela macarronada. As lâminas cortam em três tamanhos: espaguete, cabelinho de anjo e tagliatelle, mais largo.

O dispositivo pode servir como um empurrão para incluir mais vegetais na rotina e maneirar na ingestão de carboidratos — que tal um espaguete feito de abobrinha?

O conselho é comprar caso você faça esse tipo de receita com frequência. Até porque há outras maneiras de fatiar os legumes, como recorrer ao mixer ou a cortadores manuais, similares a um apontador de lápis gigante.

Dica: não precisa cozinhar os legumes cortados como espaguete. Se refogá-los, ficam al dente e os nutrientes são
preservados.

Pipoqueira elétrica

A pipoca é considerada um petisco saudável, que cabe no lanche diário. Isso porque suas fibras promovem saciedade e o milho carrega antioxidantes protetores do organismo. O problema é que as versões de micro-ondas são gordurosas a valer. A da panela, mesmo feita com pouco óleo, também tende a ficar mais calórica.

Agora, com as pipoqueiras elétricas, vendidas a uns 100 reais, só precisamos de… milho. Fáceis de usar, elas estouram os grãos em poucos minutos.

Só fique de olho na quantidade de sal, pois a ausência da gordura pode enganar o paladar e incitar pitadas extras. Temperos em pó prontos, manteiga e margarina também botam tudo a perder.

Dica: só um ingrediente vai à pipoqueira: o milho. Se quiser, tempere a pipoca depois de pronta.

Para o caro não sair uma fortuna

Por mais vantagens que os equipamentos ofereçam, vá com calma nas compras. “A dica que dou é comprar um por vez e, quando cansar, tentar o próximo”, diz Andrea. Outro conselho precioso é procurar opiniões de usuários — fale com a família e os amigos e fuce no YouTube, em portais especializados e nos próprios sites das lojas online.

Por último, calcule o custo-benefício. “Não adianta um produto ser apenas inovador. Ele deve acrescentar algo à vida da pessoa”, raciocina o empresário João Appolinário, presidente da Polishop. E tenha em mente que a compra deve vir acompanhada de interesse genuíno pelas refeições. Caso contrário, é alto o risco de o eletroportátil virar enfeite.

Se gastar centenas de reais em um eletrodoméstico extra está fora de cogitação agora, tudo bem. “Mais do que incentivar uma compra, precisamos focar no modo de preparo, entender que cozinhar em baixas temperaturas é melhor… Enfim, apostar em um conjunto de estratégias que tornam o prato saudável”, acredita a nutricionista Elke Stedefeldt, professora da Universidade Federal de São Paulo.

Em meio a tanta tecnologia, o elemento humano ainda é o ingrediente mais importante na cozinha.

Colaborou: Stephanie Dias, gerente de produto de Electrical Cooking no Groupe SEB do Brasil / Produção: Andréa Silva / Objetos: Mondial (panificadora), Polishop (sorveteira) e Walita (juicer).

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