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O jejum pode te distanciar do projeto de emagrecimento

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A prática do jejum é antiga e associada com várias religiões. E tudo bem! O problema é quando os valores sagrados que a revestem ou outras questões ideológicas se confundem com as evidências científicas, gerando a impressão de que períodos prolongados sem a ingestão de alimentos causam uma “limpeza” no corpo e promovem o emagrecimento sustentável. Isso não faz muito sentido, mas vamos começar entendendo os argumentos de quem defende o tal jejum intermitente.

Alguns alegam que ele melhora a glicemia de pessoas com diabetes. A queda aguda da glicose no sangue é mesmo esperada justamente pela falta de alimentos que ofertam essa substância. Mas se o indivíduo compensar comendo mais depois, a glicemia pode ter picos nocivos. Fora que o período de jejum favorece a hipoglicemia, que é bastante perigosa. No fim, a glicemia elevada é só a mensageira que avisa que algo está errado. Baixá-la temporariamente é que nem fugir do carteiro para não pagar a conta de luz.

Outro ponto valorizado por quem defende o jejum intermitente é a diminuição da pressão arterial. E sim, isso também acontecerá agudamente, porque 30% da água que necessitamos vem da ingestão alimentar. Sem esse volume de líquido no corpo, a circulação sanguínea fica menos congestionada, o que faz a pressão cair. Mas, de novo, essa taxa volta a subir quando a pessoa se alimenta.

E por último, há o papo de que Yoshinori Ohsumi, ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 2016, defende o jejum intermitente. Isso não é verdade: ele estudou mecanismos de restrição calórica em leveduras, que são uma espécie de fungo. Acredite: você é muito mais do que uma levedura.

Até por essa ligação com práticas religiosas, o jejum gera uma sensação de “libertação” da gordura corporal, muitas vezes vista como algo “não digno” na nossa cultura. Parece fácil adotar um método de perda de peso em que você pode comer à vontade — basta eleger períodos em que nada vai para a boca (os protocolos variam muito).

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No dia a dia, o resultado não é bem assim. O jejum representa para o organismo uma situação de risco e estresse severo. Teremos hormônios, como o cortisol, sendo liberados para nos preparar para um período de escassez. Como consequência, perderemos músculos para diminuir nosso gasto calórico diário. O nosso corpo funciona como uma empresa: diante da previsão de vacas magras, ele se antecipa e corta as “despesas” para preservar a sobrevivência. Mas perder os músculos é sinônimo de menor qualidade de vida e de maior dificuldade para emagrecer no longo prazo.

Os sinais de que algo está fora do controle já aparecem nos primeiros momentos do jejum. A dor de cabeça sinaliza que o cérebro está se ressentindo da falta de seu nutriente predileto, a glicose, oriunda principalmente dos carboidratos. A sensação de tontura ao se levantar da cama ou de uma cadeira também é comum.

As pessoas que nos cercam também podem identificar alterações promovidas pelo jejum intermitente — embora nem sempre relacionem as duas coisas. Uma é a exalação de um odor forte pelo corpo, decorrente da cetose. Ela é consequência da oxidação incompleta da gordura (isso mesmo, incompleta).

Outro sinal percebido pelos mais próximos será a alteração de humor. Alteração negativa, é claro! Ficamos rabugentos, intolerantes e passíveis de dar respostas atravessadas sem a menor necessidade.

Mas, entre essas e outras consequências, uma das que mais me preocupa é a de como o jejum intermitente transforma a nossa relação com a comida em uma luta. Se precisamos nos distanciar dos alimentos para emagrecermos e sermos “dignos”, eles não são nossos “amigos”! Esse pensamento inclusive nos aproxima dos distúrbios alimentares.

Práticas como a do jejum intermitente não se sustentam, e podem distanciar você do seu objetivo. Lembre-se de que o alimento não é o vilão da história: nós precisamos de nutrientes diariamente. Supostos atalhos na busca por uma alimentação balanceada tendem, no fim das contas, a atrasar ou sabotar nossos projetos de emagrecimento.

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