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Um estudo da Clínica Cleveland, nos Estados Unidos, publicado no respeitado periódico científico JAMA indica que incluir suplementos de vitamina C e zinco no tratamento da Covid-19 não faz diferença no controle dos sintomas, mesmo quando consumidos juntos.
Os cientistas chegaram a essa conclusão após fazer recrutar pessoas infectadas pelo novo coronavírus. No início, todas estavam sendo atendidas em casa, de maneira virtual, e recebendo o tratamento padrão para a situação: repouso e medicamentos que amenizam os sinais da doença. Elas então foram divididas em quatro grupos:
• 48 indivíduos tomaram 8 000 miligramas (mg) de vitamina C por dia
• 58 voluntários engoliram 50 mg de gluconato de zinco diariamente
• 58 participantes ingeriram os dois suplementos
• 50 pessoas receberam apenas o tratamento de suporte padrão, de modo a fazer a comparação de eficácia.
O principal objetivo da análise era checar o tempo necessário para que a gravidade dos sintomas caísse pela metade nessas diferentes turmas. Outros pontos, como mortes, necessidade de hospitalização ou piora do quadro também foram investigados. Os voluntários deveriam preencher um questionário semanalmente ao longo de 28 dias, no qual registravam a evolução da enfermidade.
Após um período, o estudo foi interrompido antes do planejado justamente porque não houve diferença significativa do controle dos sintomas e em quaisquer outras medidas entre os grupos. Ou seja, a vitamina C e o zinco — isolados ou em conjunto — não trouxeram benefícios para esses voluntários.
“A pesquisa previa incluir 520 participantes, mas só 214 foram incorporados devido à paralisação por futilidade”, informa o infectologista Julival Ribeiro, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), que não participou do estudo.
O trabalho está entre os poucos que de fato separou voluntários aleatoriamente e administrou esses suplementos de maneira controlada, o que é uma grande vantagem. Mas ele também tem limitações. Por exemplo: não houve um grupo placebo, que ingerisse um comprimido sem efeito nenhum, e os voluntários sabiam o que estavam tomando. Isso indica que a crença dos participantes pode ter influenciado nos resultados.
“Apesar disso, a pesquisa revela a importância de buscarmos evidências científicas e suporte de profissionais para tomarmos as melhores decisões no tratamento da Covid-19”, avalia Ribeiro.
O uso de suplementos contra infecções
“Desde o início da pandemia, os suplementos de vitamina C e zinco tiveram um aumento no mercado devido à crença de que atuariam contra o Sars-CoV-2”, diz Ribeiro.
Um levantamento encomendado pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), por exemplo, aponta que 48% dos entrevistados passaram a consumir mais multivitamínicos e afins em 2020.
Só que tem um detalhe importantíssimo apontado por Ribeiro: o conjunto de pesquisas sobre o assunto não mostra que a ingestão indiscriminada de suplementos ajuda a superar infecções.
Veja: o zinco e a vitamina C são nutrientes que de fato atuam no sistema imunológico, que combate vírus e bactérias. Porém, na maioria das vezes, a alimentação já é suficiente para suprir a quantidade necessária às defesas do organismo. Boa parte do conteúdo das cápsulas acaba sendo eliminada na urina por não ser útil ao corpo.
Portanto, apenas grupos específicos da população se beneficiariam dessas cápsulas. O ideal é procurar um médico ou nutricionista para verificar se realmente existe a necessidade de suplementação. E sempre priorize as fontes naturais dos nutrientes.
“A vitamina C é encontrada em uma ampla variedade de frutas cítricas e vegetais, enquanto as melhores fontes de zinco incluem marisco e outros frutos do mar, carne, laticínios, legumes, nozes e sementes”, lista Ribeiro.
Os perigos de usar suplementos alimentares sem recomendação
Via de regra, eles são seguros. Mas, se utilizados em grandes quantidades e por um longo período, podem colocar a saúde em risco ou trazer sintomas no mínimo desagradáveis.
“Em excesso, os suplementos orais de vitamina C causam efeitos colaterais, como náusea, vômito, diarreia, azia, fadiga, vermelhidão na face e dor de cabeça”, alerta Ribeiro. Há ainda o risco de cálculos renais e de uma eventual interação medicamentosa.
“Já o abuso de zinco gera problemas digestivos e renais”, afirma o infectologista. Ele também altera o nível de cobre no organismo, um mineral importante para o transporte de ferro, que combate a anemia.
Em algumas cidades brasileiras, o zinco até faz parte do chamado Kit Covid, um conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento ou a prevenção do novo coronavírus. Ocorre que a administração conjunta e prolongada de uma série de substâncias aumenta o perigo de reações adversas.
“Além disso, as pessoas ficam na ilusão de estarem seguras mesmo se pegarem a Covid-19. Com isso, deixam de adotar as medidas preventivas realmente eficazes, como uso de máscaras, distanciamento físico e higienização das mãos”, conclui o membro da SBI.
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